O autor realizou um estudo acerca da influência do grau de espiritualidade dos gestores de
pequenas e médias empresas e a qualidade de vida no trabalho dos colaboradores dessas
mesmas empresas.
Os resultados da pesquisa foram surpreendentes comprovando a relação forte entre os
gestores espiritualizados e a melhor qualidade de vida no trabalho dos colaboradores
demonstrando um alto grau de correlação entre essas duas forças e situações analisando
as tendências inexoráveis das condutas gerenciais e lideranças nos próximos tempos.
Nesta Parte I, vamos analisar os aspectos ligados à espiritualidade e como se configura
nas pessoas nos papéis de gestores e líderes empresariais.
Espiritualidade nas Organizações
O contexto em que se realizou este estudo é o da espiritualidade considerada como
qualidades do espírito humano: amor, compaixão, paciência, tolerância, capacidade de
perdoar, contentamento, responsabilidade.
Seguindo essa linha de pensamento, a espiritualidade pode ser um meio de se promover a
felicidade do indivíduo em seu trabalho e em sua organização.
Essa felicidade nasce no significado e contribuição que uma pessoa oferece à sua
comunidade de trabalho e que contempla as 4 dimensões do homem de Wilber (2002):
corpo, coração, mente e espírito que trabalham para o bem estar dessa comunidade tanto
no sentido material quanto no espiritual.
A seguir, vê-se a representação dessas dimensões como paradigmas da pessoa integral.
Há uma diversidade de conceitos de espiritualidade nas organizações e aspectos ligados a ela, todavia foram escolhidos aqueles que formam a base do estudo ora apresentado.
Autor | Definição | Ênfase |
Saad, Masiero e Battistella, 2001; Volcan, 2003 | A busca de significado na vida social e no trabalho. | Necessidade e tendência humanas. |
Luft, 2001 | Fé na existência de algo maior que a própria vida material. | Traduz em conceitos aceitos no meio acadêmico e empresarial. |
Tischler, 1999; Neal e Biberman, 2003 | Gestão e espiritualidade como grupo de interesse. | Tema incorporado na “American Academy of Management” |
Catanante, 2002 | Conexão espiritual pela prática do respeito, motivação, harmonia, ética, tolerância. | Bom relacionamento, convivência e satisfação das pessoas. |
Ross, 1995 | Significado, esperança, fé em si mesmo | Razão e preenchimento da vida, vontade de viver. |
Pereira, 2003; Prahalad e Hamel, 2005; Toffler, 1994 | Espiritualidade no trabalho quando o distanciamento dos colaboradores fica evidente. | Devido às incertezas, mudanças constantes, injustiças cometidas. |
Guillory, 2000 | A pesquisa sobre o tema é um olhar para o mundo interior. | Espiritualidade sugere que as soluções venham de fontes internas. |
Giacalone e Jurkiewicz, 2003 | Indicam que a espiritualidade nas organizações é um valor cultural. | Por meio dos processos de trabalho, facilitam a conexão com as outras pessoas. |
Boog, 2007; Catanante, 2002 | Organizações espiritualizadas são reconhecidas pela adoção de ações de responsabilidade social e criação de um ambiente de trabalho agradável. | Integram corpo-mente-espírito, apresenta a empresa como uma família, visando o maior comprometimento dos trabalhadores. |
Smith e Rayment, 2007 | Organização e gestão: a espiritualidade deve ser incluída no trabalho e na vida de um indivíduo. | Revela totalmente às atividades do negócio trazendo resultados antes não alcançados. |
Sheep, 2006 | Atende ao mundo atual, uma vez que o mundo descrito como “sociedade das organizações”. | Organizações determinam o bem-estar das sociedades e dos indivíduos que a compõem, da sua qualidade de vida. Continuação….. |
Fry, 2003 | Incorporar a espiritualidade nas atividades das organizações. | Transição para organizações que aprendem e humanizam-se, componentes vitais. |
Mitroff, 2003 | Espiritualidade age como estimulador do desempenho acima do esperado. | Além de religião ou modismo. |
Krishnakumar e Neck, 2002 | Potencial intuitivo e criativo dos colaboradores, enaltece a honestidade e a confiança entre os membros organizacionais, os “stakeholders”. | Realização pessoal dos indivíduos, revigora o empenho dos colaboradores na organização e o desempenho organizacional. |
Mitroff e Denton, 1999 | Espiritualidade é trabalho com significado. Integrada com gestão. | Pessoas são respeitadas, a empresa é ética, o trabalho desafiador. |
Guillory (2000) diz:
“Espiritualidade é a nossa consciência interior. É a fonte de inspiração, criatividade e sabedoria. O que é espiritual vem de dentro e transcende nossas crenças e valores programados”.
– O homem e suas 4 dimensões (adaptado de Wilber, 2002)
O lucro a qualquer preço, a busca cega por posições cada vez mais elevadas de “market share”, no século XXI deverão dar lugar a reflexão ética, diz Chanlat (2000) que considera com base em pesquisas da OIT – Organização Internacional do Trabalho e da OMS – Organização Mundial da Saúde, as organizações como um lugar propício ao sofrimento, à violência física e psicológica, ao tédio e mesmo ao desespero em todos os escalões.
Em razão disso, criou-se um verdadeiro vale entre colaboradores e gestores/direção das empresas, cuja ponte a ser construída para atravessar de um lado para outro deverá observar valores morais elevados, ética, espiritualidade, as dimensões humanas sendo respeitadas.
Abraham Maslow afirma que somos mais do que os nossos corpos físicos, porque somos mais do que matéria física” e “nenhuma saúde psicológica é possível a menos que este “core” essencial de cada pessoa seja fundamentalmente aceito, amado e respeitado.
Tischler (1999) relacionou o surgimento da espiritualidade no local de trabalho com a Teoria das Necessidades de Maslow. Para ele, com a evolução industrial e a estabilidade dos povos dos países desenvolvidos, essas sociedades deslocaram os interesses das necessidades de sobrevivência e de segurança para as necessidades de uma ordem mais elevada. No seu pensamento, isso pode explicar muito dos fenômenos recentes nos negócios, entre eles, a procura de maior significado no trabalho.
Maslow agrega como resultado de suas pesquisas que compaixão, amizade, e cooperação constituem características básicas da personalidade humana, e uma necessidade que proporciona equilíbrio e justiça nas relações humanas.
Tanto Weber quanto Foucault reconheceram a espiritualidade como sendo centrais à compreensão das estruturas e dos procedimentos disciplinares da vida e do trabalho modernos.
Nesta introdução ao conceito e ao estudo elaborado em 2015, o autor pretende colocar o leitor no entendimento inicial sobre o tema para, com tal base, evoluir na análise chegando juntos à conclusão de que a conduta espiritualizada dos gestores e líderes empresariais, certamente pode levar a uma qualidade de vida melhor no trabalho e, assim, aumentar a produtividade empresas.
Parte II – Consolidando a Teoria: Liderança Espiritualizada, QVT e resultados esperados.
Parte III – Resultados e Conclusões do Estudo: A Espiritualidade dos Gestores influencia profundamente na QVT.